Desde que os Tame Impala alcançaram o estrelato, a esperança de surgir uma nova corrente de rock contemporâneo que retome a energia do revivalismo testemunhado no início deste século parece cada vez mais residir na Austrália. É certo que inicialmente tal busca desbravou-se somente pelo variado catalogo que os projectos psicadélicos directamente associados a Kevin Parker e companhia apresentavam (tendo-se descoberto bandas como Pond, Mink Mussel Creek ou The Growl, para citar somente alguns), mas eventualmente o público em geral, esfomeado por mais trabalhos desta corrente dinâmica do rock moderno, eventualmente chegou a receber de braços (ouvidos?) abertos as sonoridades de grupos como Royal Headache, King Gizzard & The Lizard Wizard ou Asmuteants.
Já os Kitchen People, por sua vez, não só inserem-se neste movimento musical, como se assumem como os acólitos directos dos Asmuteants ou Lost Sounds, dado o uso extensivo dos sintetizadores com uma convicção punk. Contudo, enquanto estes colectivos se têm virado para uma abordagem experimental mais cuidada (ou pelo menos, não tão anárquica), os Kitchen People usam e abusam do caótico, como se o mantra musical da banda fosse "parar (ou sequer abrandar) é morrer". Daí a urgência que, não obstante a breve pausa excepcional em "Invisible Spear", permeia por esta dúzia de temas fulminantes que compõem "Trendoid", o segundo longa-duração - se bem que, dado o tempo total do disco, o mesmo poderia ser classificado como um EP - do colectivo de Perth, que dá continuidade ao trabalho de estreia homónimo editado em 2015.
Um trabalho de estúdio que responde às preces de quem ansiava por mais uma odisseia de sonoridades fulminantes oriunda do continente australiano e que os ouvintes do Fahrenheit poderão descobrir em primeira mão enquanto destaque Freeze! desta semana, de segunda à sexta às 14h na sintonia da RUC.
Pedro Nora
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