Com quase uma década de carreira e apenas dois EPs, Low Life (2010) e Sydney Darbs (2011), e um LP, Dogging (2014) na carteira, os australianos Low Life fizeram-nos (des)esperar durante anos pelo seu segundo álbum. Mas valeu a pena. Downer Edn (Edition) chega com uma aura de antecipação e não desilude. Regendo-se pelo mote “menos é mais”, e colocando o ênfase na repetição e nas vozes, este longa-duração está repleto de energia (post)punk mas expande-se além das fronteiras deste género.
Ao trio inicial constituído por Mitch Tolman na voz e guitarra, Greg Alfaro na bateria e Cristian O’Sullivan no baixo, juntam-se Dizzy Daldal, na guitarra e nos sintetizadores à la new wave e Yuta Matsumura, na guitarra, permitindo a Tolman um total foco na voz. Voz crua, honesta, brutal que revela sem rodeios alguns dos podres da sociedade que (n)os rodeia. O álbum, que dizem inspirado em Sydney, despoleta sentimentos universais e aborda questões relevantes em todos os continentes, como é o caso do abuso infantil retratado em 92.
Apesar da sua simplicidade, o trabalho com texturas e feedback conferem a Downer Edn uma sofisticação que denota a maturidade conquistada desde Dogging. O resultado é um álbum imponente e sinistro, profundamente negro, mas em que cabem temas mais leves, como RBB, hino de apoio ao seu clube de futebol, Western Sydney Wanderers. O álbum inicia-se e termina com duas variações da mesma melodia. Na ironia de Crash, os Low Life proclamam-nos seus discípulos, mas a verdade é que revisitar The Pitts é uma tendência à qual é difícil de escapar.
Downer Edn é um álbum sofisticado, honesto e feroz, o retrato de uma contemporaneidade que se identifica com o título escolhido. Editado pela Goner Records na América do Norte, pela Alter na Europa e pela Cool Death na Austrália, este novo trabalho dos Low Life estará em alta rotação durante a presente semana nos 107.9.
Rita Amado Dias
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