domingo, 4 de março de 2018

FREEZE!: Turnstile - Time & Space (Roadrunner Records, 2018)


Apesar de ser sempre uma cultura que gera constantemente tanta resistência como choque, o punk sempre foi caracterizado pela sua energia, independentemente da sua manifestação ou cariz temático. Apesar de constantemente renovado por colectivos como The Clash ou Hüsker Dü, o seu vigor musical manteve-se sempre vivo graças ao alento dos artistas que se recusaram a deixar esmorecer o fogo. Labaredas essas que na metade posterior da década de 90 foram afectadas por ventos de mudança, quando um número infinito de bandas surgiu com o intuito de mesclar as sonoridades agressivas do punk com os ganchos apelativos da música mais comercial. Essa fusão levou eventualmente à criação de estirpes sonoras que por sua vez originaram novos géneros musicais, encabeçados por projectos tão distintos como Rage Against The Machine, Beastie Boys ou Rancid

Foi a partir dessa era musical dourada ou rasca (a doutrina ainda hoje diverge) que os Turnstile foram criados e educados. Pegando como ponto de partida as discografias de NOFX ou Agnostic Front, o seu campo de influências parece querer desenvolver-se apenas até outros sub-géneros musicais como o reggae dos Bad Brains ou o nu-metal dos System of a Down. Como tal, o seu nascimento musical pode parecer à primeira vista como atardado ou até mesmo algo imaturo, mas essa imaturidade do quinteto de Baltimore traduz-se numa irreverência bastante compensadora nas lacunas experimentais da sua sonoridade. Aliás, o espírito vanguardista da banda fez-se sentir um pouco em demasia no seu LP de estreia "Nonstop Feeling", talvez por receio de se colarem ao som característico da cena hardcore nova-iorquina. Mas em "Time & Space", o influxo radicalista dos norte-americanos é certeiro, trazendo à memória um dos grandes marcos musicais do post-hardcore: "The Shape of Punk to Come" dos Refused

No entanto, o grande mérito deste novo disco de originais assenta precisamente no carácter despretensioso dos Turnstile. Sem grande morais político-sociais ou filosóficas, o intento do grupo neste disco parece ser o de evocar tempos em que a música aderente aos mosh pits centrava-se não tanto nos manifestos sérios de Zack de la Rocha ou Henry Rollins, mas nos videoclips jocosos protagonizados pelos blink-182. É pois um esforço sucinto que nem chega sequer perto de reinventar a roda, mas relembra quão refrescante pode ser uma viagem feita a mil à hora, a qual poderão comprovar nesta semana de pós-aniversário da Rádio Universidade de Coimbra, de segunda a sexta das 14h às 15h.

Pedro Nora

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