A corrente do art-punk é definida como um estilo musical que combina a ambição, inteligência e sensibilidade vanguardista do rock experimental com os elementos energéticos do punk. Teve os seus primórdios na década de 70, onde nomes como Television, Patti Smith e Wire se afirmaram como os nomes basilares do movimento. E embora não seja tão convencionalmente utilizado como outras etiquetas musicais relacionadas (por exemplo, o post-rock ou o proto-punk), o género foi-se sempre demarcando ao longo dos tempos, graças a bandas como Mission of Burma ou The Fall, que sempre encontram refúgio na ambiguidade experimental deste termo musical.
Os canadianos Ought são o projecto mais recente a aproveitarem-se da liberdade criativa que o art-punk lhes concede. Trazendo à memória o espírito indie-rock dos Talking Heads (que moldou o som de muitas bandas nos meados da década inaugural do séc. XXI), conseguiram subverter o comercialismo inerente dessa sonoridade, abraçando a cultura DIY que editoras como a Dischord e a Ipecac vêm defendendo nos últimos anos. Assim, e tendo em conta que o quarteto é oriundo de Montreal, não será surpreendente o seu primeiro trabalho de estúdio "More Than Any Other Day" estar sob a alçada da Constellation Records, sendo os Ought uma das grandes apostas para 2014 da mesma editora que já nos apresentou projectos como Godspeed You! Black Emperor ou Do Make Say Think.
É de realçar que, apesar de ser o LP de estreia da banda, "More Than Any Other Day" revela-se como um trabalho que brilha graças ao profissionalismo musical que evidencia. Prova disso mesmo são temas como "Pleasant Heart", que abre o disco (e cuja presença num disco dos Franz Ferdinand não se estranharia), ou "Clarity!", uma das homenagens mais competentes e sentidas à sonoridade dos Sonic Youth. No entanto, apesar da variedade (e notoriedade) das suas influências musicais, os Ought não são um mero clone musical, na medida em que ganham identidade e independência através de um espírito rebelde muito próprio. Essa rebeldia, presente sobretudo nas letras (e voz dissonante) de Tim Beeler, alia-se às estruturas melodicamente caóticas que os três restantes membros (Matt May, Ben Patrick e Tim Keen) fornecem, no decorrer dos oito temas que compõem esta estreia auspiciosa, que poderão ouvir de segunda à sexta no Fahrenheit 107.9, das 14h às 15h.
Pedro Nora
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