domingo, 26 de junho de 2016
FREEZE!: Mick Harvey - Delirium Tremens (2016)
Foi em 1995, no pico de popularidade de Nick Cave And The Bad Seeds, que Mick Harvey, na altura instrumentista na mesma banda, decidiu lançar o seu primeiro trabalho de estúdio a solo. Chamou a esse disco Intoxicated Man e deu-lhe seguimento com um outro álbum, em 1997, de nome Pink Elephants. Ambos eram coleções de originais de Serge Gainsbourg que o próprio Harvey arranjara e traduzira, numa tentativa de dar a conhecer a obra de um dos mais influentes letristas do século XX a uma nova geração de falantes de inglês.
A receita resultou e os discos atingiram o estatuto de culto, com Harvey a mostrar-se capaz de traduzir as letras do francês sem deixar de preservar as rimas, os trocadilhos e a destreza de palavreado de Gainsbourg. Agora, mais de 20 anos depois, é tempo de reavivar o desafio e criar mais um álbum de covers. Assim surgiu Delirium Tremens, no passado dia 24, que será apenas o primeiro de dois que Harvey pretende lançar este ano com versões do autor francês.
Nestes 39 minutos, há de tudo e para todos os gostos. Para o início, é escolhido o lado mais estranho da discografia de Gainsbourg: em "The Man With The Cabbage Head", Harvey diz-se "half-guy, vegetable from the neck"; "SS C'est Bon" e "I Envisage" vão buscar o arranjo e a sonoridade aos Seeds; a suavidade de "A Day Like Any Other" apanha-nos de surpresa, tal como acontece com a tropical "Coffee Colour". "A Violent Poison (That's What Love Is)" é rock negro e denso. E a etérea "The Decadance" leva o sobressalto até ao fim.
Quando questionado o que o levou a voltar a esta coleção de versões de Gainsbourg, inaugurada há 20 anos, Harvey respondeu que fazer os dois primeiros discos tinha sido demasiado divertido. A avaliar pelo terceiro, a diversão continuou e traduz-se no prazer que é ouvir a obra de Serge Gainsbourg revitalizada. Para já, ficamo-nos por este Delirium Tremens, destaque Freeze! entre 27 de junho e 1 de julho, no Fahrenheit 107.9, mas numa carreira como a do francês, com mais de 500 canções compostas, há ainda muito para Harvey explorar nos próximos anos. Difícil é não ansiar por descobrir que outras versões vêm aí.
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