O punk é um paradoxo. Ou pelo menos hoje em dia deve ser tomado como tal, pois apesar da sua natureza anárquica, cinge-se aos códigos e condutas como qualquer outra vertente (modal, musical ou filosófica). No entanto, a sua noção básica é uma de origem caótica, ou seja, de se poder desenvolver sem obedecer a regras ou a preceitos pré-estabelecidos.
É esse o intento dos The Armed com o seu novo longa-duração "Only Love". A cacofonia sónica de "Witness", primeira faixa deste novo trabalho da banda de Detroit, serve precisamente para encapsular tal ímpeto incauto, ao lançar milhares de elementos sonoros simultaneamente e procurar resgatar desse aparente barulho uma melodia contagiante e, sobretudo, pujante. A restante dezena de temas que compõem o terceiro disco dos norte-americanos segue tal hiperactividade como fio condutor, como que uma sucessão de investidas intensas interjeitadas com elementos mais harmônicos. Porém, dada a sua desordem de influências (nos seus meros 38 minutos de duração, podemos invocar nomes desde Fucked-Up a Melt-Banana) e a irreverência no que toca a certos aspectos da produção, é evidente que a este colectivo de Detroit não lhes interessa tanto a harmonia ou a mensagem mas sim a energia da sua música.
Com "Only Love", os The Armed não reinventam o punk à semelhança de uns Refused de 1998, nem procuram efectuar um revivalismo à semelhança dos Turnstile. Apesar disso, o seu ecletismo musical permite-lhes revitalizar a corrente do hardcore como se houvessem recebido o bastão dos extintos Dillinger Escape Plan e almejassem acolitar ícones do género como os Converge. Estão portanto longe de ser lendas, mas é inegável o seu potencial e potência como novos embaixadores da música pesada. Uma voltagem sonora que marcará presença enquanto destaque Freeze nas emissões do Fahrenheit 107.9 desta semana de Queima das Fitas, das 14h às 15h.
Pedro Nora
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