terça-feira, 6 de novembro de 2012

AMPLIFEST 2012 #1 [27 de Outubro]




Não é fácil abrir um festival como o Amplifest. Coube a árdua tarefa aos Six Organs Of Admittance, projecto de Ben Chasny. Curiosamente, Chasny deixou de fora o folk, a guitarra acústica e a sua faceta mais introspectiva e brindou o público, ainda escasso naquele fim de tarde, com um autêntico espectáculo de rock psicadélico, muito ao jeito de Ascent, álbum lançado já este ano. A secção rítmica da bateria e a versatilidade do baixo deram asas à imaginação e espontaneidade de Chasny, que usou a sua guitarra para um frenesim interminável de riffs e solos. Ainda que por vezes desequilibrado, o som de Six Organs Of Admittance deixou bem clara a versatilidade da mente criadora de Ben Chasny, que mostrou sentir-se à vontade com o rock psicadélico, aliando-o às sonoridades que constituem o seu habitat natural, o folk.

Depois de um início algo morno do festival, com Six Organs Of Admittance, foi a vez dos norte-americanos White Hills abrirem as hostilidades na sala 2. Foram directos e não estiveram com meias medidas: Oceans of Sound surgiu de rompante, dando início a um concerto que se provou incendiário desde o primeiro instante. Embora a sua música não seja dotada de uma fórmula particularmente original, o que fazem, fazem-no muito bem. Riffs hipnotizantes emanando da guitarra de David W., o peso do baixo de Ego Sensation e a bateria de Nick Name, presentearam o Hard Club com uma pequena, mas significante amostra de todo o psicadelismo e space-rock de que o trio é capaz. Destaque ainda para as faixas The Condition of Nothing e Radiate.

 Six Organs of Admittance

White Hills

Às 21:45 de sábado, subiam ao palco Bohren & Der Club Of Gore, colectivo jazz da Alemanha especializado em fornecer música para ambientes negros. E negro é com efeito a palavra de ordem do aspecto visual da estreia dos alemães no nosso país, com um palco predominantemente escuro (apenas uma luz sob cada um dos elementos, nem se conseguindo avistar certos elementos como o baterista), um efeito quase tão marcante para o espectáculo da banda como a sua música, esta que se distribui por uma discografia já extensa e que preencheu o ambiente de escuridão do Hard Club naquela noite. Uma das grandes surpresas do Amplifest, a banda revelou-se musicalmente distinta (executando na perfeição os seus longos movimentos musicais ao vivo) mas também algo constrangida, não só pela barreira linguística (dirigiam-se ao público num inglês bastante marcado pelo sotaque alemão) mas sobretudo por não conseguirem exprimir em palavras as emoções e ou temáticas nostálgicas que preenchem as suas composições. Felizmente, na música deles não houve tais constrangimentos e os Bohren & Der Club Of Gore nesse departamento conseguem transmitir a mensagem, deixando assim no Amplifest um concerto memorável e o desejo que regressem rapidamente ao nosso país para mais concertos.

De seguida, na sala 2, os eborenses Process Of Guilt deram um espectáculo que fez jus à velha máxima “sangue, suor e lágrimas”, para gáudio do público, que não se cansou de mostrar o seu apreço pelo que estava a decorrer em palco. O concerto consistiu na apresentação integral do último trabalho, “Fæmin”, responsável pela internacionalização definitiva dos Process Of Guilt. Nota ainda para a voz de Hugo Santos, que nem uma vez tremeu na difícil missão de reproduzir ao vivo o que tinha registado em estúdio.

Todo o ambiente negro deixado pelos Bohren & Der Club Of Gore não fazia prever a dimensão do concerto que se seguiria nessa mesma sala, mais de uma hora depois. Depois de um aquecimento pelos portugueses Process Of Guilt, foi a vez dos belgas Amenra povoarem o palco da sala 1, e o resultado não podia ter sido melhor. Desde o início que se mostraram imersos na sua música e a interacção com o público foi escassa. Os Amenra encaram cada espectáculo ao vivo como uma oportunidade de soltarem todos os demónios que têm dentro, exorcizando-os através de um doom/sludge metal, fazendo lembrar os Neurosis de há alguns anos atrás. A entrega foi total, com uma playlist a tocar principalmente no último registo Mass IIII, e ainda um cheirinho do próximo registo, a ser editado ainda este mês.

A encerrar a primeira noite do Amplifest, contou-se com a presença nacional dos Löbo. A banda lisboeta volta a associar-se ao projecto do seu teclista Ricardo Remédio, de seu nome Rei Abutre (ou RA), que se estreou ao vivo no Lounge, em Lisboa, em Março deste ano. A primeira parte do concerto fez-se em banda, onde os riffs de doom-metal dos Lobo foi complementado pelas composições à base de synths graves e complexos de RA, criando-se assim uma assinatura musical própria e única no panorama do post-rock nacional e da qual se espera uma edição em disco. Depois, a meio do espectáculo, a banda abandona o palco, deixando o referido Ricardo Remédio a solo, onde não só deu a conhecer o EP “Rancor”, fruto do seu trabalho a solo enquanto RA, mas mostrou igualmente as inspirações e influências do músico, de entre as quais se contam nomes como Trent Reznor ou Gary Numan.

 Bohren & Der Club Of Gore

 Process Of Guilt

 Amenra

RA/Löbo


Texto de Eduardo Negrão, João Fernandes, Pedro Nora e Tânia Cardoso
Fotografias de Eduardo Pinto

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